— EU TE ODEIO. (— ME TOO.)
— Mestre Zen, o que faço para amar mais minha mulher?
E ele, de imediato, respondeu:
— Ame sua mulher."
Considerando essa linha de pensamento, concebemos que o casamento — sob quaisquer características mais acomodadas ao nosso tempo — envolve um certo grau de investimento. O que significa que uma relação afetiva, uma afeição, um amor por muito desejado, aquele que nos leva a observar no outro algum aspecto de atração: seu gesto, seu carisma, seu andar, seu olhar, seu corpo, etc..., é em geral o que faz as pessoas se unirem; se quererem.
Um casamento, então, exige um verdadeiro investimento cotidiano. Se pensarmos na vida, no processo de nascer e morrer, veremos que viver é uma coisa difícil. É um processo delicado: pessoas trabalham; quebram a cara; divertem-se; almejam coisas, somam-se na companhia de amigos interessantes ao ponto de pressupor que atingiram a felicidade. Mas essa visão romântica de felicidade, até certo ponto palpável, está associada ao casamento, à ideia de que quando encontramos nossa cara-metade encontramos a felicidade. Mas esse é um pensamento de eternização e não de encontro de parcerias, de trocas a serem elaboradas de um para o outro.
É possível que a instituição casamento esteja se ruindo por uma economia de raciocínio, pois quando um entra na vida do outro eles se desarrumam mutuamente. Ambos têm que se arrumarem a partir daquela união. Em outros casos, quando surge uma nova união, identifica-se mais facilmente a relação de parceria com base na experiência anterior. Talvez, assim, por essa ótica, se passe a entender que experiência é um acúmulo de coisas: vividas, sentidas e, em certa medida, trazidas dos pais.
Ainda dizem que com o passar do tempo nos tornamos nossos pais. Isso muito me assustou. Mas agora não. Meus pais deram-me a entender que o fato de um dia eles irem embora não representará levar todo o passado com eles. — Grande alívio! Na verdade, nós é que decidiremos se os levaremos dentro do coração ou pendurados às costas, com as suas coisas... Assim cada indivíduo decidirá, principalmente, que uma vida cheia de emoções é também uma vida muita complexa e desastrosa.
No desastre há muita felicidade, e também muita dor. A chave é não evitar conhecê-los. Na felicidade podemos deslumbrar e sonhar; imaginar tudo o que poderíamos ser e até mesmo esquecer o que somos atualmente. Mas na dor descobrimos nossa verdade, os segredos que escondemos e que, ocasionalmente, aparecem para nos lembrar sobre os lugares obscuros nos quais nós já estivemos.
E entre a felicidade e a dor está o medo, o pior lugar de todos. O medo faz com que defendamos apenas o pouco que temos, evitando-nos atingir o que realmente precisamos. E se o acúmulo de coisas fizerem delongar todo o estado de medo então será bom sermos atingndos por um lapso de sorte, na pessoa de um anjo que nos resgate desse medo terrível, quase uma prisão — paralisia da mente —, que poderia nos acostumar naquele lugar de medo como se assim o fosse o de uma liberdade segura.
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