PERVERSÃO
O conceito me parece muito amplo e difuso, pelo
mesmo motivo de os preconceitos adentrarem neste departamento valorativo. Penso
que há muita dificuldade em aceitar e conviver com nosso lado animal, e muitos
são os que têm vergonha e não se soltam em funções elementares de sua própria
fisiologia, tudo tendo como sinal de depravação, primitivismo e imoralidade. Mas,
pergunto-me, como tentar esclarecer sobre “perversão”, sem parecer ortodoxo? Inclusive,
porque no tema está presente a temática “masturbação” e, em jogo, normalmente,
o fator “fantasia”, que pode incluir itens que não sejam desejados também na
relação concretizada a dois.
Assim,
o tema é muito complexo, e, sem dúvida, não o esgotaríamos nesta primeira fala
a respeito. Por outro lado, algo de alcance tão geral requer cuidados ao expor,
a discorrer abertamente sobre o assunto, porque mentes menos amadurecidas,
levianas, despreparadas para nos ouvir, poderiam fazer mau uso de nossas
afirmações. O que podemos dizer é que tudo que lese física, emocional ou
moralmente alguém pode ser enquadrado no capítulo “perversão”, ao passo que
tudo quanto promova o bem-estar biopsíquico, o crescimento psicológico e a boa
relação entre as criaturas não pode ser considerado como distúrbio moral ou
patologia psíquica.
O quesito “fantasia” é ainda mais intrincado,
porque, frequentemente, melhor que se liberem certos conteúdos indesejados (e
ainda não de todo domesticáveis) da psique, por meio das ferramentas
imagéticas, do que fazê-los colapsarem no próprio comportamento, em surtos que
se chamam, em psicologia junguiana, de “possessão pela sombra” (*). Os
princípios de civilização, entretanto, devem sempre reger tais processos
mentais, na promoção da educação e da melhoria progressiva dos indivíduos, dos
mais ínfimos aos maiores gestos, dos mais secretos aos públicos. A gerência de
tais impulsos – que, como disse, não podem, em sua totalidade, ser de pronto
sublimados – corre por conta da responsabilidade de cada um, em função do
próprio e do bem comum.
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