DEMOCRACIA RACIAL - SERÁ?
O Programa Fantástico exibiu, em 19/7/2015, matéria
jornalística referente aos Haitianos que buscaram refúgio no Brasil. Definem-se
por refugiados, pessoas que se encontram fora do país de origem por fundado
temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião
política, participação em grupos sociais ou violação generalizada de direitos
humanos e que não possam retornar para casa. No caso em apreço, terremotos os
deixaram desabrigados e sem condições de reconstruir o país.
A reportagem buscou retratar um possível quadro de
democracia racial que infelizmente está longe de ser uma realidade neste país.
Os Haitianos assim que começaram a chegar foram rechaçados por Brasileiros, no
entanto os movimentos negros pressionaram o governo para uma política de acolhimento.
A Reportagem também mostrou como os Haitianos foram
matriculados e aceitos no sistema educacional brasileiro. As escolas são os
primeiros lugares sociais onde negros são discriminados e violentados: pelos
livros didáticos que apresentam sempre famílias brancas; pelo corpo docente
despreparado para lidar com relações raciais e pelos alunos que reproduzem o
racismo vivido no interior de suas famílias.
De acordo com o relatório a respeito do Enfrentamento
da Exclusão Escolar no Brasil publicado em 2014 pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância – UNICEF em parceria com a Campanha Nacional pelo Direito a
Educação, os mais excluídos seja na pré-escola, ensinos fundamentais e médios
são os que vivem na zona rural, os negros e os provenientes de família com
baixa escolaridade.
Segundo o relatório no ensino médio são 1 (um)
milhão de adolescentes negros fora da escola contra 653 (seiscentos e cinquenta
e três) mil brancos. Em todas as faixas etárias, crianças e adolescentes negros
estão em desvantagem em relação ao acesso e à permanência escolar. No entanto,
o silêncio que impera em torno do racismo no país impede uma discussão séria
sobre estes fatos.
O Entrevistado, Robert Delice, era professor de
matemática no Haiti, no entanto só conseguiu emprego de operário no Brasil, o
único da reportagem a abordar discriminações sofridas no país disse: “Encontro
muitas injustiças. Muitos brasileiros consideram os haitianos, nas empresas,
como escravos”.
Seja refugiado e/ou brasileiro o fato é que os
negros ocupam as posições mais precárias no mercado de trabalho, além da
completa ausência dos espaços de comando, fatos exaustivamente denunciados
pelos órgãos de pesquisa do próprio Governo Federal e pelos movimentos negros.
O constrangimento deve-se ao fato de que ao agregar
na mesma reportagem a fala da Chanceler Federal Angela Merkel da Alemanha que
responde a uma refugiada que a Alemanha não tinha condições de receber todos os
refugiados do mundo e ao mesmo tempo relatar algumas historias de Haitianos no
Brasil, inclusive com o beijo de duas meninas brancas numa Haitiana voltamos à
defesa de uma democracia racial que nunca existiu neste país.
É inaceitável colocações e discussões rasas sobre
este assunto que impacta a vida de milhões de brasileiros negros que sofrem cotidianamente
com o racismo. As relações entre brancos e não-brancos é normativa, pejorativa
e extremamente violenta. Esta violência nasce de um lugar de poder ostentada
pela figura do homem branco europeu como superior aos negros e outras classes
consideradas minoritárias.
A sociedade brasileira não tem pleno conhecimento
do sofrimento vivido pelos negros e nem mesmo os próprios negros têm
consciência do desgaste emocional imposto por estas relações. Na psicologia
começam a surgir alguns estudos que ratificam esse sofrimento. A psicóloga
Maria Lúcia da Silva, presidente do Instituto AMMA Psique e Negritude, disse:
“sem medo de errar é possível dizer que, no país, uma grande maioria de
brasileiros, em que se inclui um enorme contingente de negros, vive em constante
sofrimento mental, devido às precárias condições de subsistência e à falta de
perspectivas futuras”.
Exposto, creio que reportagens como a que foi
veiculada pelo Programa Fantástico não contribuem para o enfretamento do
racismo. A falsa ilusão de relações cordiais entre brancos e negros vem sendo
desmitificadas e comprovadas diariamente por inúmeros casos de racismo nas
redes sociais, nos campos de futebol, por mulheres arrastadas pelo asfalto, em
chacinas como Cabula em Salvador e Candelária no Rio de Janeiro com o saldo de
vários jovens negros mortos.
Colaboração: MÁRCIA MARIA DA SILVA, Psicóloga e
Servidora Pública.
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