HUMOR, PARA QUEM?

A Televisão Brasileira lançou a minissérie “Sexo e as Negas”, em total desrespeito às mulheres negras, e apesar de inúmeros protestos nas redes sociais a série foi ao ar. Sim, somos uma população desrespeitada em nosso país, afrontada, oprimida e sem reais direitos iguais.
O corpo é a presença indelével do sujeito nos espaços do mundo e o lugar onde carrega razões e emoções. Nesse aspecto, o que garante ser para um sujeito é sua visibilidade para outro sujeito.  Segundo Fanon (2008) a pessoa só se torna humana quando reconhecida pelo outro, pois este outro deve permitir sua segurança subjetiva.
O corpo da mulher negra, no imaginário nacional, continua sendo terra de ninguém, lugar sem dono, sem alma, desprovido de sentimentos e desejos. É objeto de menor valor, portanto tratado de qualquer forma, pois objetos são arrastados por carros policiais e usados sem quaisquer critérios para satisfazer desejos de outrem.
As mulheres negras estão cansadas deste humor sádico que as colocam sempre nos mesmos lugares da falta de reconhecimento, invisibilidade e desrespeito. Falta um lugar onde seja permitido ao corpo da mulher e do homem negro afirmar-se como sujeito desejável e pleno de direitos. 
A população negra brasileira vive num ambiente declaradamente hostil que nega a sua cor, sua identidade e sua humanidade. Os estereótipos criados em torno da família negra na mídia e nos espaços sociais, em nada contribuem para a formação e estruturação das suas identidades.
A liberdade e a igualdade de direitos da população negra ainda são utópicas. Diferentemente da África e Estados Unidos da América, nunca ocorreu no Brasil uma separação racial legal e formal, no entanto, as desigualdades raciais são facilmente visíveis e de graves conseqüências para a nação, configurando-se um apartheid social.
O mito da democracia racial sufocou a consciência de grupo entre os negros brasileiros, dificultando uma ampla organização em torno das relações raciais com reivindicações pontuais por iguais direitos. Assim, os negros permanecem ausentes dos espaços de visibilidade e poder, portanto são minorias em órgãos como Câmara dos Deputados, Senado Federal, Ministérios e na mídia em geral.
Recentemente mais de 50.000 (cinquenta mil) negros saíram às ruas na II Marcha contra o Genocídio do Povo Negro, com a palavra de ordem Reaja ou será Morta - Reaja ou será Morto com a finalidade de manifestar contra a morte física e psíquica da população negra.
O protesto organizado em 16 Estados e no DF, também teve a adesão de alguns países, no entanto, não foi divulgada uma nota sequer na Televisão Brasileira. A Marcha contra o Genocídio da População Negra provém do fato de que no ano de 2011, dos 52.198 mortos por homicídios mais da metade eram jovens e 71,5% eram negros, além das outras mortes causadas pela falta de acesso à saúde, trabalho e educação.
A Marcha apresentava, ainda, como um de seus objetivos a retomada de voz da população negra, portanto foi divulgada nas prisões, favelas e periferias das grandes cidades, conclamando os negros a ocuparem as ruas e apresentarem suas próprias queixas contra o Estado e a sociedade que buscam silenciar as suas vozes.
No país, os negros permanecem nos piores postos de trabalho, nas periferias das grandes cidades, na indigência e pobreza. A lógica continua a mesma do período escravocrata, tanto é assim que artistas negros passam fome e/ou muitas vezes são obrigados a aceitar papéis ridículos como as deste seriado.
Talvez isso explique a esquizofrenia social formada em torno do racismo, em que 50.000 negros na rua não sejam notícia, mas um caso ocorrido em Porto Alegre, em que torcedores do grêmio chamaram o goleiro do Santos Futebol Clube de “macaco”, envolvendo uma torcedora branca de bom nível social, passe a ocupar as redes de televisão 24 (vinte e quatro) horas por dia.

Os protestos continuarão até que a sociedade brasileira aprenda a respeitar a população negra deste país. Não queremos mais, não aceitamos menos, queremos iguais direitos, pois ajudamos a construir este país que constantemente nos envergonha perante os nossos e o mundo. Sim, incendiaremos as redes sociais e outros espaços possíveis com nossas reclamações.

Por: Marcia Maria da Silva – Psicóloga e Servidora Pública.


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